Eu
- O copo de água por favor.
Ela me olhou. Silêncio.
Ela
- Não assim que você faz?
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No calor da respiração ofegante, quente e esfria, seco e gotas, lago úmido na imaginação, como nas costas lisa de um belo sapo que sempre carrega um luar inventado, eu pude finalmente pensar em paz.
Sobre o que é estar presente.
Era um momento em que me ofendia,
sem motivos,
só provas.
Carícias, beijos e toques, continuaram.
Eu fiquei.
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Um dia ela me olhou. Me lambeu.
Levantou
e foi embora.
A mesa pareceu falar alguma coisa, não entendi, então o sofá fez um movimento, eu estava surdo? A janela vibrou, me pareceu uma chamada brusca. Eu dei toda minha atenção a ela. Nada.
Como poderia? Eu estava atento.
A porta estava aberta mesmo que ninguém no mundo conseguisse passar por ela naquele momento.
Era selada pela memória.
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Nunca! Jamais!
Esquecer minhas humilhações?
Meus desprazeres?
Meus infortúnios?
E como poderia eu abandonar todos os meus dias de doença, aparente morte iminente, falsos diagnósticos, esse é meu favorito pessoal, chutes esdruxúlos de médicos ressaqueados, mal amados e saqueados por exposas e filhas, como poderia eu desejar esquecer?
Nunca abandonaria aqueles cinco dias em que eu tinha um aprevisão exata de morte. Eles foram os melhores entre os piores, mas ainda assim, melhores.
Limpar um machucado novo, ah, poucos momentos na vida se está tão presente quanto ao limpar um talho recém criado pela vida.
A vida é feita de sangue e pus, em alguns momentos,
em outros de flores e sol, em alguns momentos.
Flores e pus, pus e amores, amores são pus, depois da inflamação vêm o pus, que ameniza a dor, ou paixão, ela só virá novamente depois que machucado for limpo.
Limpe seu próprio machucado.
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