quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

ÚLTIMO DIA DE 2008

TODO MEDICAMENTO DEVE SER MANTIDO FORA DO ALCANÇE DE CRIANÇAS.
SIGA CORRETAMENTE O MODO DE USAR.
NÃO DESAPARECENDO OS SINTOMAS, PROCURE ORIENTAÇÃO MÉDICA.

mais um ano
ele
chegou
esqueça a si mesmo
e
o
AME.

sábado, 20 de dezembro de 2008

Noite

A noite o bar não é mais casa, é um refúgio, um porão na cidade sem porões. O sol faz a conceção de não aparecer na festa, até que seja a hora de te apontar a si mesmo. Hora importante, ignorada e ultrajada. Hora de nascer do morrer. Não conte a ninguém o que descobriu, é só seu, não entenderão, não viveram, não morreram, não amaram. Só a chuva e o poste sabem. As nuvens vão embora, as ondas quebram e voltam, o vento nunca para em um lugar. Sempre é só você. Meu inimigo sou eu. Não há nenhum outro à altura. " I am always fighting myself" assim falou o profeta bêbado.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Beaumont

A noite o sono não vem, foi dar uma volta e me deixou sozinho. Um dia de manhã pego ele no flagra, mas enquanto isso fico aqui com coceiras em pontos que nunca coçaram, imagens que já passaram, nomes que não quero e luz, que chega avisando a hora. Nessa hora estou com uma só sensação, puto. "Sensações não existem, só acompanham ações".

Merda, sempre achei que estava sentindo alguma coisa importante e que era esse o momento porque eu "sentia que era" mas era só mentira...minha, de mim para eu. Como um índio, se é que existem ainda, ser índio é ter uma televisão e usar bermuda jeans. Cara pintada é como mentir.

Mendigos tem cama? Menino de rua tem sabe o que é calor?
Roupa suja sabe o que é odor?
Mães sabem ver maldade nos filhos?
E a loja da esquina, quando vai falir?
Até quando quem joga bolinhas no sinal vai ficar ali?

Não quero respostas, realmente não me interessam, não...não. Estou fechado para balanço, seu balanço. Estou observando o que me fala, cabeça cheia, se não entendeu se esforce pois o mundo fala com você. Estou me esforçando e ainda assim não escuto boa parte.

Conceitos são idiotas como seus criadores.
Idéias só funcionam na teoria.
Não gostar é excluir parte do mundo.
Falar limitando-se é nocivo.
Falar não sendo específico é como cagar e perguntar
- Isso sou eu, agora qual parte do que sou eu é você?

Tomo mais um gole,
olho a garrafa vazia,
vou dormir.

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Bar em Trastevere

Frequento o bar mais fudido da região. É uma constatação a essa hora, estou aqui a quatro horas e conheço boa parte dos que frequentam agora. A maior parte é composta de deformados, barbudos e desempregados. Todos me cumprimentam com grunhidos, sons que não pertencem a nenhuma língua além da experiencia de vida. Os outros bares possuem conversas "agradáveis", "elevadas", "drogadas" e tudo o mais, aqui só vejo sorrisos, não querem mais dor, ninguém filosófa sobre nada, ninguém se interessa por qualquer tipo de coisa além de uma bunda ou um peito. Cada um faz o seu trabalho, uns bebem, outros desenham, alguns escrevem, outros servem e alguns abanam o rabo. Todo mundo tem um rabo. Estou em pé no canto, lugar altamente privilegiado e disputado a olhares e ameaças físicas. O banheiro é uma instalação plástica, no sentido literal da palavra. O vinho é uma merda mas feito de uva. A café é nojento mas estranhamente o que mais vicia da região. O sujeito maldito que serve no bar, está deprimido há doze anos, não fala com ninguém e nem por isso resolveu escrever um blues. Seu filho morreu, pelo que seu olhar indica, mas tudo leva a crer que é o mendigo da esquina. Este eu conheço está ali trabalhando a três anos, seu pai nunca mais olhou pela janela. Um assaltante americano muito boa praça bebe comigo, ele perdeu seu passaporte e sua profissão se resume a "I do things that i don´t wanna do." a maioria do mundo trabalha nisso mas ele me pareceu mais sério que os outros. Seus amigos africanos foram deportados e ele por se parecer o Bruce Lee continuou no país. Sinto que ele está meio solitário e proponho que pule da ponte, seria uma morte honrrosa... ele não concorda. Está já de porre total enquanto turistas de seu prórpio país flertam de passagem, cansou de assaltos fáceis e me diz que prefere coisas que envolvem viciados em crack e outras drogas,"awesome stuff" ele diz. Meio sonolento peço um café, em meio a mais um vinho, ele reprova, eu jogo o café dentro do vinho, ele aprova, "brave shit, that will put some hair in your chest", eu concordo. Bruce sai de perto, continuo o canto, é meu e daqui só saio em direção ao banheiro, natural, shit i ad. Já são 4:30 quando o sujeito decide fechar o bar, um motim é formado, mas como é um motim usual, nem mesmo os amotinados levam a sério. Vou para casa, não sonhar. Quem apaga não sonha.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Roma

Estou em Roma.
Aqui tudo é velho, ou antigo ou não me ligo. Os italianos são legais, as italianas mais legais, mas não falam devagar o que é um problema. Querem saber se eu gosto de futebol, odeio. Querem saber se eu vi o papa, com letra minúscula para quem não acredita em deus, também com letra minúscula, caso exista e por fazer um trabalho tão mal feito; não vi o papa, ele acorda muito cedo. Domingo até uma da tarde não sou uma pessoa e sim um ser tentando sobreviver, constantemente me perguntando - Quanto tempo mais de vida pela frente? O tempo passa devagar, nunca passou rápido. O que passa rápido são os momentos bons, mas mesmo eles são lentos se percebidos pela via de mão única.

No avião um garotinho de cinco ou seis anos estava viajando sozinho ao meu lado, do lado de lá do corredor. Uma velha deu azar de sentar ao seu lado. O moleque era genial. Perguntou 25 vezes antes do avião decolar se já estávamos voando. A velha me olhou, eu sorri, ela me encarou, pensei que sexo no banheiro era fora de cogitação devido as pelancas. O vôo foi mai mais agradável devido ao garotinho, porque eu sabia que não estava no pior lugar. A velha estava quase abrindo a porta do avião depois que o moleque resolveu perguntar o que eram todos os botões, todos os nomes dos passageiros, todos os vestidos da aeromoça e todos os utensilios possíveis de se fazer um avão voar. Eu achava o máximo cada vez que o garotinho acordava a velha e sorria para ele, uma dose de motivação pessoal sempre é bom para os que estão começando. No final quando eu me despedia do garotinho ele perguntou se a cortina das janelas no aeroporto eram para tapar o "peru" dos que estavam do outro lado, fiz que sim com a cabeça enquanto a aeromoça levava-o para longe. O nome dele era Gustavo.


Ontem achei uma tulipa roxa que caiu de um apartamento no chão, obviamente peguei-a e levei ela até um bar para tomar um vinho comigo, o italiano ficou preocupado com minha sanidade mental ao perceber que eu estava carregando uma planta sem vaso na mão. Quando pedi um vinho ele se acalmou e quando ofereci um para a tulipa ele voltou a ficar atiçado, meio corado e tal, mas como eu e minha tulipa roxa não nos preocupamos saimos de lá rapidamente. Deixei-a em um cesto de uma bicicleta estacionada, me parecia que ela queria ir para lá, aquele lugar onde um italiano ou um imigrante a encontrariam. Sou angelical para os que não conheço, para os que não falam principalmente, eles são mais fáceis de se tratar.

Andei até um bar um pouco mais longe, e mais perto do meu hotel. Lá achei uma moldura no chão, não tinha quadro, nem pintura mas tinha lixo. Resolvi dar uma de artista plástico e coloquei a moldura na parede do bar mais moquifo que tem aqui na esquina do meu hotel. Achei umas fitas isolantes que tinham alguma coisa escrita, sei lá o que "defesa civil" que eu não entendia mas que me pareciam legal. Coloquei a moldura na parede, vetei uma parte da parede, liguei com uma fita longa que ficava bem ao vento e joguei um copo de vinho na parede, errei uma parte do alvo mas o resto acertei bem aonde eu queria. A parede era de sei lá quantos anos, me senti mal pelo vinho mas comprei outro depois e ao voltar achei que a parede merecia mais.

De manhã acordei de ressaca. Procuro me manter de ressaca para não me manter bêbado.