quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Bar em Trastevere

Frequento o bar mais fudido da região. É uma constatação a essa hora, estou aqui a quatro horas e conheço boa parte dos que frequentam agora. A maior parte é composta de deformados, barbudos e desempregados. Todos me cumprimentam com grunhidos, sons que não pertencem a nenhuma língua além da experiencia de vida. Os outros bares possuem conversas "agradáveis", "elevadas", "drogadas" e tudo o mais, aqui só vejo sorrisos, não querem mais dor, ninguém filosófa sobre nada, ninguém se interessa por qualquer tipo de coisa além de uma bunda ou um peito. Cada um faz o seu trabalho, uns bebem, outros desenham, alguns escrevem, outros servem e alguns abanam o rabo. Todo mundo tem um rabo. Estou em pé no canto, lugar altamente privilegiado e disputado a olhares e ameaças físicas. O banheiro é uma instalação plástica, no sentido literal da palavra. O vinho é uma merda mas feito de uva. A café é nojento mas estranhamente o que mais vicia da região. O sujeito maldito que serve no bar, está deprimido há doze anos, não fala com ninguém e nem por isso resolveu escrever um blues. Seu filho morreu, pelo que seu olhar indica, mas tudo leva a crer que é o mendigo da esquina. Este eu conheço está ali trabalhando a três anos, seu pai nunca mais olhou pela janela. Um assaltante americano muito boa praça bebe comigo, ele perdeu seu passaporte e sua profissão se resume a "I do things that i don´t wanna do." a maioria do mundo trabalha nisso mas ele me pareceu mais sério que os outros. Seus amigos africanos foram deportados e ele por se parecer o Bruce Lee continuou no país. Sinto que ele está meio solitário e proponho que pule da ponte, seria uma morte honrrosa... ele não concorda. Está já de porre total enquanto turistas de seu prórpio país flertam de passagem, cansou de assaltos fáceis e me diz que prefere coisas que envolvem viciados em crack e outras drogas,"awesome stuff" ele diz. Meio sonolento peço um café, em meio a mais um vinho, ele reprova, eu jogo o café dentro do vinho, ele aprova, "brave shit, that will put some hair in your chest", eu concordo. Bruce sai de perto, continuo o canto, é meu e daqui só saio em direção ao banheiro, natural, shit i ad. Já são 4:30 quando o sujeito decide fechar o bar, um motim é formado, mas como é um motim usual, nem mesmo os amotinados levam a sério. Vou para casa, não sonhar. Quem apaga não sonha.

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