quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Washington

Washington é o nome do rapaz que eu contratei para alegrar aonde quer que eu esteja. Washington joga bolinhas para o alto no sinal. Por cinquenta reais Washington se tornou exclusivo meu. O acordo envolve ele jogar bolas de tênis sempre que eu parar em algum ponto da rua, não estarei de carro óbvio, afinal como Washington me seguiria? Tenho andado meio insatisfeito com o mundo a minha volta e resolvi fazer algo para mudar a situação, criar empregos, algo informal que dê para eu sonegar imposto em comunhão com alguém sem poder de barganha. Não possuo departamento de Rh e ando rápido. Washington não reclama nunca é impressionante, eu que tenho todas as condições favoráveis em minha chamada vida, reclamo o tempo inteiro. Washington já deixou cair as bolas. Eu dei muita confiança e Washington mostrou que não está preparado para um cargo mais independente. Certa vez presumi que não precisava avisar toda vez que iria parar, pois havia julgado que a essa hora ele já havia entendido como eu funcionava , mas Washington demonstrou que não estava preocupado em "aprender". Pelo contrário, tentou diminuir o espetáculo ao qual eu tinha total direito. Duas jogadas a menos e não passou a bola por trás da cabeça em um movimento circular contínuo. Ao invés, passou por baixo das pernas, que é um truque de segunda categoria, explicitamente posto fora do espetáculo em nosso acerto contratual. Washington sabe ler e escrever. Não que precise para o trabalho, mas perguntei durante sua entrevista de emprego. Hoje de manhã estava andando e ao dobrar uma esquina senti que não havia mais ninguém me seguindo. Gostava de estar sendo seguido, por mais estranho que pareça dá uma sensação de segurança, mesmo sendo uma pessoa a qual eu não faça a menor idéia de onde vem nem para aonde vai. Em uma feira Washington sempre passava correndo em um determinado momento com alguém correndo logo em seguida, eu sempre acertava o que vinha, era uma velhinha que logo tossia e se cansava. Era muito divertido. O policial chegava logo depois e eu apontava para Washington que já sabia o que lhe esperava, uma pistolada na costela. Washington não achava graça enquanto eu ria e lembrava a ele de que eu estava parado. Foi uma semana maravilhosa. Washington desapareceu. Acho que mudou de bairro. Agora procuro um bebê para alugar. Andar com ele no calçadão, ir a praia e fazer algum programa de pai, você conhece alguém que alugaria um filho?

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