quarta-feira, 13 de agosto de 2008

4:00am

Me encontro sozinho em meu quarto. São quatro da manhã, segunda-feira. Silêncio total. Um cano de descarga passa estrondoso como um trovão, uma angústia nasce a meu lado. Posso sentir, bem aqui, ao meu lado, ela rescosta sua cabeça em meu braço que se arrepia. O ruído vivo vai se distanciando, parece entrar em um túnel do espaço suposto pelo meu imaginar. Sem me dar conta o silêncio entra novamente e paro de respirar. Um segundo. Nada...
Nem um movimento. Me sinto suspenso no ar, sem coragem de interromper, sem força para pensar, estou só.
Um som quebra esta eternidade passageira, e estou de volta. Idéias voltam a me assombrar, pensamentos antigos ressurgem sem nenhuma explicação, posso inventar qualquer relação que eu quiser para meus pensamentos ou para o que acontece a minha volta, mas sei que é uma coisa infantil. A arte infantil é feita desta maneira. Para alguns é uma religião. O gole engasgado durante o mau pensamento é um presságio do mal. Infantil é o que chamo hoje. Não ontem.
Um pensamento cai como uma folha cambaleando a espera de um sopro que à eleve de volta à ávore vizinha. Se minha vida terminasse aqui e agora, segunda, 4:00am, o que seria do mundo? Não sei o que seria de mim, nem dos que me cercam. Sei que haveria uma certa aporrinhação com procedimentos legais ou materiais em relação ao meu corpo, mas pergunto qual seria a real diferença? Como alguém pode saber que neste exato momento eu me encontro aqui, acordado?
O mundo continuaria. O sol jamais interromperia seu caminho. Pássaros cantariam. Carros cheios de traficantes continuariam a passear pelas ruas da cidade a noite. Em algum lugar uma transa começaria e outra terminaria. Ninguém jamais saberia.
Um segredo meu e da vida.
Amanhã não interessa se alguém vai bater a sua porta ou não, mas e agora? Um ataque cardiaco, um aneurisma cerebral, um tropeço no banheiro, um escorregar ao levantar, um simples engasgar, famoso em bares e restaurantes porém sorrateiro em ambientes solitários. Um átimo e o blackout total.
Sinto meu lençol tocando a ponta de meu dedão, ele puxa um pouco para direita o pé direito, reparo em sua pirâmide formada pelo meu pé, me lembra uma vela, branca como nos barcos. Quer brincar de cócegas. Escorrego meu dedo ligeiramente pelo lençol e sinto um prazer na maciez. Agora minha mão é quem me chama ela escreve e sua um pouco, bem pouco, mas levanto-a para enxugar e vejo minha cadeira. Ela me implora para eu sentar! Como está sozinha e sente frio. A mesa não fala com ela, é séria com seus papéis e documentos. O computador ameaça ligar a qualquer momento, sem o meu comando, joga sua independência no ar e sua jovem arrogância.
Tudo fala. Posso ouvir com minha pele e ver com meus ouvidos.
Objetos querem andar, tem ânsia pela vida.
Escolhemos escutá-los ou não. Podemos passar a vida toda preocupados com nossos pensamentos ou simplesmente escolher escutar.
Para nascer de novo basta um agora.
Somos todos grávidos
em meio a nossas
gravidades.
Apago a luz,
escolho o silêncio,
já é tarde.

Dou boa noite e
ninguém me responde.

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