sexta-feira, 29 de agosto de 2008
Edna
Independente de qualquer coisa, Edna sempre teria a casa para arrumar. Pensava assim todos os dias de manhã quando acordava arrependida. Olhava a sua volta e pensava que o espelho estava errado. Edna colocava primeiro o pé esquerdo no chão, era algo incontrolável, não conseguia se conter e por isso sofria em silêncio. Era dramática. Sabia disso e se orgulhava de sua culpa. Pela noite podia ouvir música vinda do prédio de trás, não gostava do que ouvia, não entendia as palavras. Ficava extasiada com a vida noturna, imaginava pessoas sorrindo, a cidade iluminada e seus carros de luxo. Edna estava com a casa toda arrumada, olhava do canto da sala, em pé no canto. Silêncio rompido, dava um gostinho de sereno bem no meio da sala. O tom de bege fazia Edna se sentir mais antiga do que era. Estava pronta para sair, sempre esteve, não importava a hora do dia. Dormia com batom. Seus olhos brilhavam naquela noite, queria sair de qualquer jeito e hoje estava se prometendo que iria. Fazia quanto tempo desde a última vez, ela se perguntava e quanto mais procurava mais escuro se tornava o bege da sala. O frio da cozinha vinha da luz. Silêncio. Edna olha para o telefone pendurado, seu fio longo, enroscado, está um pouco sujo mas combina com o azulejo azul. Olhava as linhas brancas torcendo para um toque assustá-la e nada acontecia então passava seus olhos violentamente pela parede, suas mãos apareciam no seu campo de visão e a cozinha estava se tornando mais escura agora, apagou a luz e saiu. Apagou a luz da sala e o corredor um pouco perigoso era o único caminho. Um dia caiu por causa daquele velho tapete, o piso era de tábua corrida encerado dia sim, dia não. Jamais retiraria o tapete dali embora pensasse todos os dias, era como o pé, um segredo só seu que a fazia rir de suas próprias manias, como se fossem elas que a faziam ser o que era. Apagou a luz do corredor e chegou ao quarto. A cama era florida, bordada com babado, quente antes mesmo de se deitar. Edna olhou uma última vez para fora do quarto com esperança e olhou para o silêncio. Dentro do quarto havia um calendário. Edna olhou para ele, já deitada, e viu o que já sabia, sexta-feira.
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