Qual a medida do tempo?
Horas é o mais mental possível que uma pessoa pode responder, lógica alemã. É relativo? Como na história em que o tempo passa devagar com uma mão na frigideira quente e rápido quando estamos com a pessoa amada. É só isso? Além da história de que o tempo passa mais devagar quando viajamos para o espaço, o que mais que há? Dias, meses, anos definitivamente não correspondem bem ao que denominam.
Há certos dias da vida em que uma curva surge no meio da reta, as horas vão passando pela janela, tentamos contar algumas mas nos desanimamos quando elas parecem ser sem fim. Uma curva vem chegando e antes de entrarmos nela já começamos a nos virar um pouco, há sempre aqueles que deixam para o momento final e ainda aqueles que decidem ir reto. Continuar a reta sobre a curva e sobre o que vier depois, nem que sejam obrigados a construir viadutos gigantescos para isso.
O tempo de virar é diferente para todos, assim como o tempo de vida. Ninguém vive o mesmo tempo que alguma outra pessoa. Todos tem uma experiência única, mesmo quando tentam ser únicos, que não pode ser intimamente compartilhada mas que se torna macia como um abraço carinhoso ao se identificar com algum semelhante.
Dias foram subdivididos em horas, como nossas vidas foram subdivididas em etapas. Nada mais vulgar e rudimentar do que determinar etapas gerais para uma vida, visões resumistas que ignoram um mar de acontecimentos e diálogos não só com humanos mas com o todo que nos afeta.
Sim objetos podem falar, mesas também sabem sorrir.
Um sapato sozinho é tão triste quanto um cadarço orfão.
Uma toalha molhada é amarga.
O mundo não se utiliza só de palavras, ele amplia estas palavras e se apropria dos sons, assim como o tempo se apropria de nossas sensações, sim o tempo pode se apropriar das sensações e não ser um clima-tempo, basta olharmos como há dias em que um passo é um deitar-se em pé, pensamos em mundos inteiros, vidas, histórias antes do outro pé chegar ao chão. Esse dia passa, simplesmente passa.
Há também dias em que não pensamos em uma só coisa, até sermos interrompidos, só há solidão acompanhada hoje em dia. Esses dias são coloridos, o ar se torna substância densa, pássaros viram aviões perfeitos, asfalto tem gosto de cinza arenoso, seco como a poeira, nos encontramos vivos, sem dizer nada, somente escutando. Cheirando com a pele e ouvindo com o nariz. Olhos às vezes podem atrapalhar criando associações, mas podem ser treinados.
E tudo isso cabe dentro do tempo, mas definitivamente não pode ser aprisionado dentro de horas, meses, anos ou etapas. Simplesmente se nega e nos mostra todos os dias como inventamos estar certos.
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